O direito ao aborto em Moçambique
reflexões decoloniais e antirracistas
Resumo
O presente artigo tem como objetivo realizar breves e iniciais reflexões sobre o direito ao aborto em Moçambique. O aborto foi legalizado até a 12° semana de gestação em 2014 com o intuito de impactar os índices alarmantes de mortalidade materna no país. Moçambique faz parte do rol de países mais inseguros para uma mulher engravidar no mundo. A morte materna impacta cerca de uma mulher a cada 41 no país. O aborto é uma das principais causas de morte materna que por sua vez são em 98% dos casos evitáveis. As meditações aqui apresentadas apontam para a necessidade de situar o debate do aborto no campo da justiça reprodutiva e do enfrentamento ao racismo para garantir não apenas o direito ao aborto na legislação, mas sobretudo o acesso as serviços que garantam a implementação deste direito; relaciona a criminalização social e legal do aborto na geopolítica do capitalismo e racismo mundializado; discute a necessidade de compreender a reatulizações das práticas coloniais que despojam as mulheres negras de humanidade, em especial as mulheres de África.
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