DISCURSIVIDADE PÓS-COLONIAL E A ESCRITA LITERÁRIA DE YTANAJÉ CARDOSO EM CANUMÃ: A TRAVESSIA
POSTCOLONIAL DISCOURSE AND THE LITERARY WRITING OF YTANAJÉ CARDOSO IN CANUMÃ: A TRAVESSIA
DOI:
https://doi.org/10.29281/rd.v13i26.17233Palavras-chave:
Literatura indígena amazonense, Canumã, Discurso pós-colonial, Reescrita, OralidadeResumo
Ytanajé Coelho Cardoso é um escritor indígena descendente dos Munduruku, autor do romance Canumã: a travessia, publicado em 2019. Nessa obra são narradas histórias e vivências de um povo tradicional munduruku que se encontra em uma região banhada pelo rio Canumã, situado no estado do Amazonas. A indicação do termo travessia sugere um olhar acerca das transformações que afligem as raízes tradicionais de uma comunidade indígena. Assim, a construção dessa narrativa conscientiza acerca da preservação do legado cultural indígena, buscando, sobretudo, manter viva a língua e as memórias de um povo historicamente negligenciado e silenciado. Dito isso, apresentamos uma análise a partir da leitura do romance de Ytanajé Cardoso à luz do discurso pós-colonial. Considerando o que diz Ana Mafalda Leite (2020), o pós-colonialismo inclui estratégias discursivas e performativas que frustram a visão de ordem colonial. Ou seja, trata-se de uma prática que vai na contramão dos discursos dominantes. Ao pensar sobre o lugar dos Povos Originários na história, Pachamama (2020) destaca a construção de sua invisibilidade enquanto sujeitos históricos e ressalta o protagonismo pulsante desses povos. A historiografia apresenta um discurso excludente, uma visão limitada acerca dos povos da floresta. A escrita de Ytanajé Cardoso representa, desse modo, uma posição contrária aos estigmas e visões equivocadas enraizadas em nossa sociedade. Assim, a construção de um texto narrativo de autoria indígena, sobretudo um romance que ainda é pouco explorado no cenário da literatura indígena amazonense, é um ato político e percorre um caminho de reconstrução e de conhecimento.
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