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CHAMADA: Dossiê Gênero, Raça e Sexualidade: mulheres negras, homens negros, populações subalternizadas e LGBTQIA+ nas etnografias contemporâneas
REVISTA WAMON DIVULGA AS PROPOSTAS DE DOSSIÊS TEMÁTICOS SELECIONADAS!
PRORROGADA: CHAMADA PARA SUBMISSÃO DE PROPOSTA DE DOSSIÊ TEMÁTICO
CHAMADA PARA SUBMISSÃO DE PROPOSTA DE DOSSIÊ TEMÁTICO
CHAMADA: Etnografias Críticas e História Oral: coteorização, epistemologias das margens e descolonização de narrativas
RESULTADO FINAL DO PROCESSO SELETIVO PARA NOVOS/AS EDITORES
PROCESSO SELETIVO PARA NOVOS/NOVAS EDITORES/AS DA REVISTA WAMON - HABILITADOS/AS
PRORROGAÇÃO: CHAMADA PARA NOVOS/NOVAS EDITORES/AS DA REVISTA WAMON
DISCENTES E EGRESSOS DO PPGAS PARTICIPAM DA ASSEMBLEIA DA COIAB
Edição Atual

As relações sociais na América Latina estão alicerçadas em assimetrias de poder oriundas do (mal)encontro colonial. A conquista do “novo mundo” tem marcado o surgimento de uma matriz de dominação estruturada pelo racismo e alimentada pelo capitalismo. O racismo surge assim como condição para a exploração dos territórios e das populações que o habitam (Quijano, 2000), dessa maneira, constitui-se como o eixo transversal da reprodução das práticas coloniais que se perpetuam nas sociedades latino-americanas atuais.
Os povos indígenas ao longo dos 520 anos de espoliação, viram suas terras e territórios transformando-se em mercadoria, seus rios virarem em esgotos (Krenak, 2015) e seus corpos subjugados aos interesses do capitalismo colonial. O Estado brasileiro, desde seus primeiros anos republicanos, caracteriza-se por fomentar e patrocinar frentes de expansão econômica sob a bandeira do desenvolvimento (Velho, 2013). No caminho dessas frentes estavam e estão as populações indígenas que vêm sendo exterminadas, deslocadas e constrangidas a trabalhar sob condições degradantes, inclusive com respaldo das instituições governamentais. Essas populações também elaboraram estratégias para se apropriarem da “arquitetura da dependência” (Turner, 1991) no intuito de afirmar certa autonomia econômica e política.
Entretanto, estudos clássicos das ciências sociais têm recorrentemente omitido as relações de poder que atravessam as organizações sociais, econômicas e espirituais dos povos originários, em prol de uma visão a-histórica e um tanto essencialista dessas sociedades, analisando-as sob o espectro da sua “alteridade radical”. Para além do conceito de alteridade, Fabian (2006) aponta a noção de “outridade” (otherness) como mais adequada para encarar a alteridade não como uma visão espelhada de si, mas historizada, enquanto produto de violências, assimetrias de poder, decorrente do colonialismo. A “outridade” reflete nas representações dessas populações, que são vistas, ora como o ícone sublime da simbiose entre homem e natureza, e ora como aculturadas, absorvidas pelas sociedades nacionais e o sistema capitalista. Essas representações permeiam o pensamento nacional, na qual a história dos processos coloniais e as respostas e estratégias políticas e econômicas dessas populações tendem a ser apagadas.
Dentro dessa perspectiva, este Dossiê recebeu artigos embasados em trabalhos etnográficos ou históricos que considerem os indígenas “de carne e osso” (Ramos, 1994) e que apreendam as relações de poder que atravessam a formação e afirmação dessas populações.; artigos que abordam tanto perspectivas etnográficas quanto históricas: 1) as relações sociais de trabalho; 2) estratégias políticas e de manejo ambiental; 3) resistências e autonomias territoriais, que digam respeito às populações indígenas do continente americano.
Edição completa
Dossiê Temático
Artigos Livres
Povos originários, capitalismo e relações de poder na América Latina
As relações sociais na América Latina estão alicerçadas em assimetrias de poder oriundas do (mal)encontro colonial. A conquista do “novo mundo” tem marcado o surgimento de uma matriz de dominação estruturada pelo racismo e alimentada pelo capitalismo. O racismo surge assim como condição para a exploração dos territórios e das populações que o habitam (Quijano, 2000), dessa maneira, constitui-se como o eixo transversal da reprodução das práticas coloniais que se perpetuam nas sociedades latino-americanas atuais.
Os povos indígenas ao longo dos 520 anos de espoliação, viram suas terras e territórios transformando-se em mercadoria, seus rios virarem em esgotos (Krenak, 2015) e seus corpos subjugados aos interesses do capitalismo colonial. O Estado brasileiro, desde seus primeiros anos republicanos, caracteriza-se por fomentar e patrocinar frentes de expansão econômica sob a bandeira do desenvolvimento (Velho, 2013). No caminho dessas frentes estavam e estão as populações indígenas que vêm sendo exterminadas, deslocadas e constrangidas a trabalhar sob condições degradantes, inclusive com respaldo das instituições governamentais. Essas populações também elaboraram estratégias para se apropriarem da “arquitetura da dependência” (Turner, 1991) no intuito de afirmar certa autonomia econômica e política.
Entretanto, estudos clássicos das ciências sociais têm recorrentemente omitido as relações de poder que atravessam as organizações sociais, econômicas e espirituais dos povos originários, em prol de uma visão a-histórica e um tanto essencialista dessas sociedades, analisando-as sob o espectro da sua “alteridade radical”. Para além do conceito de alteridade, Fabian (2006) aponta a noção de “outridade” (otherness) como mais adequada para encarar a alteridade não como uma visão espelhada de si, mas historizada, enquanto produto de violências, assimetrias de poder, decorrente do colonialismo. A “outridade” reflete nas representações dessas populações, que são vistas, ora como o ícone sublime da simbiose entre homem e natureza, e ora como aculturadas, absorvidas pelas sociedades nacionais e o sistema capitalista. Essas representações permeiam o pensamento nacional, na qual a história dos processos coloniais e as respostas e estratégias políticas e econômicas dessas populações tendem a ser apagadas.
Dentro dessa perspectiva, este Dossiê pretende receber artigos embasados em trabalhos etnográficos ou históricos que considerem os indígenas “de carne e osso” (Ramos, 1994) e que apreendam as relações de poder que atravessam a formação e afirmação dessas populações. Serão bem-vindos artigos que abordem, tanto perspectivas etnográficas quanto históricas: 1) as relações sociais de trabalho; 2) estratégias políticas e de manejo ambiental; 3) resistências e autonomias territoriais, que digam respeito às populações indígenas do continente americano. Visando a pluralidade de relatos e narrativas, temos especial interesse em trabalhos produzidos por acadêmicos e pesquisadores indígenas. Suas pesquisas são extremamente importantes para entendermos a sociedade brasileira e latino-americana desde uma pluralidade de perspectivas além de contribuir ativamente para a restauração da história (Palermo,2005).