Tem Terreiro na Floresta
(Re)Conexões entre Amazônias e Áfricas por meio do Ylê Asé Oba Amacú
DOI:
https://doi.org/10.69696/somanlu.v24i2.16442Palavras-chave:
Presença negra na Amazônia, Pedagogias de Terreiro, Áfricas, AmazôniasResumo
Em meio ao genocídio perpetrado contra a população negra oriunda de Áfricas, a diáspora trouxe ao Brasil, em suas mais variadas e recônditas regiões, sofrimentos e resistências de povos escravizados pelo sistema colonial. O texto aqui esboçado objetivou refletir acerca das ligações entre Áfricas e Amazônias por intermédio da religião, via metodologia autoenográfica – ao unir biografia e etnografia clássica a partir dos debates pós-coloniais -, obtida mediante vivência na festa dos erês e ibejis realizada no terreiro Ylê Asé Oba Amacú em outubro de 2024, na cidade de Manaus, capital do Amazonas, compreendendo-se as ligações entre o particular e o geral. O resultado evidencia a importância de visibilizar os saberes ancestrais conservados na região, mostrando, com foco na experiência do sagrado, aspectos pedagógicos trazidos pela festa acompanhada, tal qual evidencia a celebração em louvor a erês e ibejis, bem como a importância de babalorixás e ialorixás que conduzem a ritualística e a relação com a ancestralidade nos terreiros. Como conclusão, entende-se também serem imprescindíveis mais estudos que viabilizem a discussão em torno da presença negra nas Amazônias, de modo a combater racismos – incluindo o religioso e o epistêmico, constituintes do racismo estrutural – e a ideia falaciosa de uma inexpressiva presença africana na região. Neste diapasão, como sugestões, fica a contatação das necessidades de mais pesquisas neste eixo, de forma a combater os citados racismos assentes na região amazônica e no Brasil, por meio da construção de conhecimentos e saberes voltados para os sujeitos sociais que vivenciam a religião, sejam praticantes e/ou sacerdotes.
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