A Lingua(gem) como Ferramenta em Tempos de Crise: uma Reflexão sob a Tensão Política e Social em Moçambique no Período Pós-Eleitoral (2024–2025)
Abstract
A linguagem exerce um papel central na mediação de crises políticas e sociais, especialmente em contextos de instabilidade como o que Moçambique enfrentou no período pós-eleitoral de 2024–2025. Este artigo analisa como a linguagem foi utilizada como instrumento de poder, resistência e mobilização durante este período. Através de uma abordagem qualitativa que combina análise de discurso crítica, análise de conteúdo de redes sociais e revisão bibliográfica, foram identificados padrões linguísticos nos discursos oficiais, na mídia tradicional e nas plataformas digitais. Os resultados revelam que o governo moçambicano adotou uma comunicação unidirecional, predominantemente em português, excluindo comunidades que se expressam em línguas locais. Por outro lado, líderes comunitários e movimentos juvenis utilizaram as línguas locais como ferramentas de resistência e expressão identitária, promovendo narrativas alternativas e ações de engajamento político. As redes sociais, ao mesmo tempo que funcionaram como catalisadores de mobilização, também foram palco de desinformação e discursos de ódio. O artigo conclui que a exclusão linguística agrava desigualdades sociais e limita a eficácia das comunicações em tempos de crise. Recomenda-se a adoção de políticas públicas que promovam a inclusão linguística, a descentralização da comunicação e o fortalecimento de canais de diálogo intercultural. A valorização das línguas locais e a capacitação de líderes comunitários são estratégias essenciais para construir um espaço público mais democrático, reduzir tensões e fomentar a coesão nacional. Assim, a linguagem, mais do que um meio de expressão, revela-se uma ferramenta estratégica para transformar conflitos em oportunidades de reconciliação.
Palavras-chave: linguagem, crise política, línguas locais, análise de discurso, redes sociais, inclusão linguística.