Ilha de Moçambique e Ilha Mem de Sá: o patrimônio cultural entre o racismo ambiental e climático no século XXI

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Resumo

Patrimônio Mundial da Humanidade pela UNESCO, em 1991, a Ilha de Moçambique guarda tesouros culturais e ambientais, da arquitetura manuelina na Capela de Nossa Senhora do Baluarte, na Fortaleza de São Sebastião (século XVI), perpassando o antigo colégio jesuíta Palácio de São Paulo (século XVII), Mesquitas, Templo Hindu ao património arqueológico subaquático. Na Província de Nampula, a Ilha de Moçambique é um destino turístico popular na África Austral pelo património histórico e cultural. Mas, as mudanças climáticas trouxeram a erosão costeira. A divisão da ilha em “cidade de pedra” e “cidade macúti”, com hierarquias e clivagens socioeconômicas, prejudica a geração de emprego e renda do turismo, bem como os prédios em ruínas e a falta de saneamento básico poluindo as praias ameaçam a história, a memória, a cultura e a vida dos residentes. A pandemia da Covid19 configurou um obstáculo à saúde dos habitantes. Nessa realidade e diante das Cartas Patrimoniais da UNESCO, o Plano de Gestão da ilha e o Cluster da Cooperação Portuguesa, pretende-se refletir o racismo ambiental e climático, avaliando seu impacto na qualidade de vida e autonomia das comunidades locais. Busca-se também traçar uma estratégia de Ensino de História comparativo entre a Ilha de Moçambique e a Ilha Mem de Sá, em Sergipe, no que diz respeito às injustiças ambientais e os usos do patrimônio cultural para a manutenção de novas relações colonialistas no século XXI.

 Palavras-chave: Património Cultural; Ilha de Moçambique; Ilha Mem de Sá; Racismo Ambiental e Climático; Ensino de História.

Biografia do Autor

Janaina Cardoso de Mello, Universidade Federal de Sergipe (UFS)

Pós-Doutoranda (UFRJ/UFF); Doutora em História Social (UFRJ); Professora do Departamento de História (DHI), do Mestrado em História (PROHIS) e do Mestrado em Ensino de História (PROFHISTÓRIA) da Universidade Federal de Sergipe (UFS).

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Publicado

2024-01-03