O PROBLEMA DE COHEN NOS ATOS DE FALA E A QUESTÃO DO COMPROMETIMENTO COM O DISCURSO

Resumo

No contexto da conversação ordinária, não é raro encontrarmos ambiguidades e mal-entendidos, intencionais ou não, que comprometem tanto a compreensão do que é dito quanto a cooperação racional em prol de uma troca de informações produtiva. Especificamente no âmbito da teoria dos atos de fala, desenvolvida por J. L. Austin, que compreende que os proferimentos como atos não apenas descrevem, mas também produzem fatos, evidencia-se o chamado “Problema de Cohen”. Esse problema permite que se diga algo sem necessariamente assumir compromisso com o conteúdo enunciado, possibilitando desde a formulação de enunciados cômicos (como as piadas) até a geração de impasses sérios, com repercussões de ordem moral – como promessas insinceras ou declarações falsas — e jurídica, como falso testemunho, falsidade ideológica, estelionato. Trata-se, portanto, de um mecanismo que viabiliza a apropriação inconsciente de falácias, cuja configuração só se torna plenamente inteligível à luz desse Problema. O presente artigo propõe, ainda, uma solução inspirada nos argumentos de B. Russell, especialmente aqueles expostos em Da Denotação.

Palavras-chave: performativo; comprometimento; conteúdo; paradoxo; falácia.

THE COHEN’S PROBLEM IN THE SPEECH ACTS AND THE ISSUE OF THE COMMITMENT WITH THE UTTERANCE

Abstract

In the context of ordinary conversation, it is not uncommon to encounter ambiguities and misunderstandings — whether intentional or not — that undermine both the comprehension of what is said and the rational cooperation necessary for a productive exchange of information. Specifically within the framework of Speech Act Theory, as developed by J. L. Austin — which holds that utterances not only describe facts but also produce them — the so-called “Cohen’s Problem” becomes evident. This problem allows speakers to say something without necessarily committing themselves to the content of the utterance, enabling the production of utterances ranging from humorous statements (such as jokes) to serious impasses with moral implications — such as insincere promises or false declarations — and legal consequences, including perjury, ideological falsehood, and fraud. It is, therefore, a mechanism that facilitates the unconscious appropriation of fallacies, whose structure becomes fully intelligible only in light of this problem. This article further proposes a solution inspired by the arguments of Bertrand Russell, particularly those developed in On Denoting.

Keywords: performative; commitment; content; paradox; fallacy.